domingo, 18 de dezembro de 2011

Ilhas, de Sophia de Mello Breyner Andresen

   Sophia de Mello Breyner Anderson nasceu a 6 Novembro de 1919, no Porto.

   Escrevendo alguns livros de sua autoria e traduzindo obras já existentes ganhou, entre outros, o Prémio Camões (1999), o Prémio de Poesia Max Jacob (2001) e o Prémio de Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (2003).
   A sua obra poética que eu li foi Ilhas.

   Esta obra está dividida em 4 grupos. No primeiro grupo encontramos os poemas reencontrados, que pensam-se ser poemas que Sophia escrevera, quando fora mais nova. O segundo grupo baseia-se em poemas intitulados como Tempo, Canção, Veneza, Barcelona, entre outros. Os Navegadores, os descobrimentos, as cartas e um dedicatória são, principalmente, a base do grupo três. Poemas como Poema, Casas, Escrita, Guitarra e algumas cartas trocadas em Sophia e alguns amigos, fazem parte do quarto grupo.

   Quase no final do livro encontramos uma NOTA que nos fala sobre esta obra, indicando os Prémios que lhe fora atribuídos, as normas ortográficas e todas as informações que sejam necessários sobre a impressão e data desta mesma obra.
   Numa página anterior a esta encontramos um texto intitulado por ARTE POÉTICA V. Esta texto fala-nos no primeiro contacto que Sophia de Mello teve com os poemas e da ideia que ela tinha sobre a poesia, ou seja, que esta não pederia existir sem o silêncio.

   Como forma de começar a leitura desta obra, abri o livro na página 22 onde li o poema que lá se encontrava. Foi uma boa forma de começar a leitura desta obra poética:

“Seu rosto seria a cintilante claridade
                                     De uma praia
                               E em sua humana carne brilharia
                               A luz sem mancha do primeiro dia”


   Com a leitura desta obra, descobri também que, para Sophia, apesar de todas as mudanças que possam existir na nossa vida a poesia é a única coisa que permanece, porque para ela mudar, nós também temos de mudar.

   Como em todas as obras deste tipo de escrita, à primeira análise existem poemas que não nos transmitem nada e que parecem não ter sentido. Mas ao relermos e voltarmos a reler tudo ganha um significado.
   Como já referi, existem textos nesta obra que se baseiam em cartas e dedicatórias, entre elas umas cartas trocadas entre Sophia e Jorge de Sena. Nesta carta destaco as seguintes passagens:

                                   “É agora que chega a notícia que morreste
                                   E algo se desloca em nossa vida”

                                   “E agora chega a notícia que morreste
                                           A morte vem como nenhuma carta”


   Uma das muitas passagens do livro que eu gostei foi:
        “Diz-se que para que um segredo não nos devore é preciso dizê-lo em voz alta no sol de um terraço ou de um pátio. Essa é a missão do poeta: trazer para a luz e para o exterior o medo.”

   Original mas no fundo verdadeiro, o “Fragmento de “Os Gracos”” foi um dos textos que eu mais gostei:

                                   “Os Ricos nunca perdem a jogada
                                    Nunca fazem um erro. Espiam
                                           E esperam os erros dos outros
                                          Administram os erros dos outros
                                   São hábeis e sábios
                                   Têm uma longa experiência do poder
      E quando não podem usara própria força
                                          Usam a fraqueza dos outros
     Apostam na fraqueza dos outros
     E ganham


     Tecem uma grande rede de estratagemas
    Uma grande armadilha invisível
    E devagar desviam o inimigo para o seu terreno
    Para sacrificar como um toiro na arena”



  

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Resposta a Matilde

O livro Resposta a Matilde é de Fernando Namora e escolhi este livro porque o título me despertou alguma atenção. 
É um livro um pouco complicado e, na minha opinião, pouco interessante. 
O autor classifica-o "de divertimento".
Tudo começa num café chamado "Café Estrela", que é frequentado pelo explicador de Matemática, por Manucha e pelo marido, chamado Arnaldo. 
Foi amor à primeira vista entre o explicador de Matemática e Manucha. Passados alguns dias, cruzaram-se na rua e começaram a falar. Manucha dá o número de telefone ao explicador e, no dia seguinte, ele liga-lhe a marcar um encontro.
Um encontro de uma mulher casada, chamada Manucha, com um explicador de Matemática. Encontram-se no Rossio de Lisboa, mas o encontro acaba devido a não haver um lugar onde eles pudessem ficar sozinhos. Pois o explicador vivia num quarto em que a senhoria era muito coscuvilheira fazendo com que não fosse um sítio propício para o encontro entre os dois. Então, o explicador promete a Manucha que vai encontrar um lugar sossegado para que os dois estivessem à vontade e que depois lhe telefonaria para marcarem o dia e o lugar do encontro...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"Ensaio sobre a Cegueira", José Saramago

O livro “Ensaio sobre a Cegueira”, do recém-falecido José Saramago, começa com o relato de uma cena completamente banal – um homem que segue a sua rotina habitual, sentado no trânsito, à espera que o semáforo mude. No entanto, de repente tem um ataque de cegueira, afirmando que “vê tudo branco”. Várias pessoas correm em seu socorro, sem saberem que a cegueira é altamente contagiosa. Naturalmente, o número de vítimas desta misteriosa doença multiplica-se no espaço de dias. O governo decide agir, e decide que todos os cegos devem ser isolados num manicómio abandonados em quarentena com recursos muito limitados.                                          Aos cegos junta-se a mulher do médico (um médico que também apanhou a cegueira branca), que parece ser a única pessoa que esteve em contacto com um afectado e que não apanhou a doença, e que finge ser cega para acompanhar o seu marido.
A mulher do médico torna-se então a personagem principal do enredo, sendo como assim o “leitor na história”. É ela que observa, durante o tempo passado no manicómio, as situações que põe à prova a capacidade humana em tempos de desespero – lutas causadas pela falta de comida, compaixão pelos mais necessitados, actos de violência e abuso, grupos dominantes e submissos… Por fim, após incendiar a camarata de um dos grupos mais poderosos, conseguem fugir, apenas para descobrirem uma cidade profundamente afectada pela doença – imunda, repleta de lixo e cadáveres, onde os cegos que escaparam ao isolamento adaptaram um estilo de vida de nómadas primitivos.
Durante grande parte do livro, Saramago consegue pôr-se no ponto de vista da mulher do médico na perfeição. Consegue explorar a questão de o que será pior – ficar cego como todos os outros, ou ser a única pessoa que vê? O autor usa e abusa da personagem, trazendo à superfície todas as suas frustrações e receios face às atitudes do grupo, e à sua solidão. É uma personagem extremamente versátil, pois tanto exibe uma faceta vulnerável em minoria, como de certa forma também pode representar o papel de uma espécie de Deus; “guia” os cegos em tempos de desespero, tem um ponto de vista diferente de todos, vê e julga o que mais ninguém pode ver e julgar.                    Quem já leu Saramago sabe que a escrita dele é difícil de seguir, por vezes até maçadora e irritante. Sem dúvida alguma, é diferente. No que toca a regras de escrita, Saramago decide criar as suas, utilizando vírgulas para separar falas, poucos pontos finais, pouquíssimos parágrafos. Para ler o “Ensaio Sobre a Cegueira”, ou qualquer outro livro dele, é necessária uma concentração absoluta no que se está a fazer. Talvez Saramago pudesse escrever como todos os outros autores contemporâneos… Poder podia, mas não era a mesma coisa.
O livro é, acima de tudo, absolutamente frustrante. É frustrante, porque nos leva a ver estas criaturas a que chamamos animais racionais rebaixarem-se até não poder mais, a lutar entre si, a viver cada dia com um pouco mais de infelicidade. É depressivo, não ao ponto de nos fazer chorar, mas ao ponto de nos fazer não o querer ler mais, porque sabemos que não vai resultar de lá nada de bom. Ler este livro não é uma experiência agradável, e honestamente, duvido que lhe queira pegar outra vez. Quando chegamos ao fim, não entendemos qual foi o ponto de o ler. No entanto, houve ponto, mas é preciso escavar mais fundo para o encontrar. Ler o “Ensaio Sobre a Cegueira” foi um pouco como levar uma vacina. Não nos apetece nada. E quando acabamos, não podemos dizer que estávamos errados – foi horrível. E não voltávamos a fazê-lo por vontade própria.                            No entanto, ganhámos algo com isso, por muito que nos custe admitir. Há coisas na vida que não nos agradam, mas não podemos vendar os olhos e deixá-las passar à nossa frente. Mesmo que nos custe aceitar este relato sofrível, sinto que é uma história que devíamos todos conhecer. Mesmo se não gostarmos. Porque diz-nos muita coisa (muita coisa má), sobre o ser humano. E sobre como as pessoas são capazes de se degradar num minuto, se quiserem.
Há uns meses fui ver um filme. Um filme de cinema, com pipocas e tudo, chamado “Colisão”. E durante o filme, reconheci tudo o que havia para reconhecer – a narrativa, explorando também como uma epidemia (que se alastra neste caso mundialmente) pode mudar o mundo (para pior). Vai desde pessoas banais a espirrar banalmente às mesmas pessoas a assaltar outras, de pistola em punho, a atropelar os vizinhos no supermercado para chegar à prateleira dos remédios. O filme pode ser completamente diferente do “Ensaio sobre A Cegueira”, e até pode parecer desnecessário compará-los. Mas acho que no fundo, resume-se à mesma coisa. Não sei quanta vezes é que este conceito de degredo humano foi utilizado, tanto na literatura, como no cinema, talvez até já se tenha aplicado na vida real (sim, de certeza). Mas seja em que caso for, por muito aborrecido ou até mesmo deprimente que seja revê-lo, o “Ensaio sobre a Cegueira” é a melhor forma de o fazer.

A Cidade e as Serras

Gostei bastante do livro. O tema, como o próprio nome indica, é como uma viagem entre a Cidade (Paris) e as Serras (Tormes). A história começa com o Zé António a contar a história do Jacinto, seu amigo de infância. No início, estão ambos em Paris quando Zé António recebe uma carta dos tios que moram no Douro. Quando regressa de Portugal, passados sete anos, encontra Jacinto mais envelhecido e com aquilo que lhe pareciam “bugigangas”, mas que Jacinto lhe diz que são “avanços tecnológicos”.  Zé Fernandes é convidado para ficar em casa de Jacinto (o 202 dos Campos Elísios), e aos poucos, vai-se apercebendo que o “Príncipe” (como lhe chamava) se começava a fartar da Civilização, então partem os dois para as Serras, levando várias bagagens, o negro Grilo e um escravo. Quando vão na viagem, há um atraso, e quando chegam à estação de Tormes, os dois amigos são praticamente “atirados” para fora do comboio, ficando as malas, o escravo e o Grilo no comboio, que seguia caminho para o Porto. Ao chegarem à propriedade de Jacinto, não têm nada, mas quando comem um arroz de favas preparado com o que havia em casa, Jacinto apaixona-se pela comida e decide ficar nas serras. Entretanto, o Zé Fernandes tem de ir a casa dos tios, pois o tio morrera, e a tia ficara muito sozinha. Jacinto, querendo prestar condolências, vai até à propriedade do amigo, e é onde conhece a prima Joana do Zé, e acabam por se casar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Primo Basilio

 Passado em Lisboa, nesta obra conta-se a história de uma casal ( Luisa e Jorge). A acção começa quando Jorge tem que viajar para o Alentejo por motivos profissionais. Durante a ausência do marido, Luisa é inesperadamente surpreendida pela visita de Basílio, seu primo e amigo de infância com quem havia trocado algumas cartas de cariz romântico. Seduzida por Basilio, Luisa começa a ter um caso com ele.
 Mas, Luisa tinha uma criada, Juliana, que, rancorosa e mesquinha, ao descobrir o segredo de Luisa e Basilio através de uma carta faz chantagem, obrigando Luisa a servi-la como se fosse ela a dona da casa, e exigindo uma quantia de dinheiro. A pobre Luisa sujeitou-se a todas as humilhações mas não tinha tanto dinheiro. Pediu-o a Basílio, mas este, já entediado das relações com Luisa e também sem dinheiro, regressa apressadamente para França.
 Com a chegada do marido, a situação complicou-se ainda mais. Luisa começa a ficar doente, abatida e sem apetite, facto que preocupa e indigna Jorge. Luisa, já desesperada, numa tentativa de solucionar o problema, conta tudo a Sebastião, um amigo de Jorge que, com a ajuda de um polícia seu conhecido, consegue tirar a carta das mãos da criada. A criada assustada pela inesperada interpelação, sofre um ataque cardíaco e morre. O sucedido, enche de alegria Luisa, que julga ver acabados os seus tormentos.
 Basílio tinha recebido em França uma carta de Luisa a pedir-lhe dinheiro, mais uma vez, à qual decide responder muito tempo depois de a ter recebido. Na carta promete enviar a quantia necessária para calar a criada. Esta carta acaba por ser lida por Jorge que, naturalmente, exige explicações à esposa.
 Vendo-se desmascarada, Luisa adoece e não resiste à morte. Após a sua morte, Jorge abandona a casa onde haviam vivido.
 Algum tempo depois, Basílio volta a Lisboa e procura Luisa. Ao ver a casa fechada, é informado que esta falecera.

Isto foi o resumo do livro "Primo Basilio" de Eça de Queiroz. É um livro bastante interessante, mas que por vezes contem algumas partes que se podem tornar aborrecidas. Para mim o mais interessante neste livro foi a maneira como Eça escreve detalhadamente todos os pormenores e caracteristicas de objectos e personagens. O que menos gostei foi o facto de ter acontecido a "traição" que é algo que a mim não me agrada e nem deve agradar a ninguém. Mais tarde irei publicar aqui no blog um texto com a minha opinião sobre a diferença de "honestidade e traição" nas amizades e nas relações amorosas como me foi pedido pelo Professor.

sábado, 19 de novembro de 2011

Ontem não te vi em Babilónia

Ontem não te vi em Babilónia, de António Lobo Antunes foi o 2º livro que eu li no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa.
Este autor, que cada vez menos se interessa em contar uma história, desenvolve uma escrita complexa, construindo personagens que se debruçam sobre o passado e as suas vidas, em discursos e episódios fragmentados, com pensamentos e frases inacabadas.
O livro trata de brutalidade, dor e morte mas tambem de traumas da sociedade portuguesa, como a repressão e violência durante a ditadura de Salazar.
É muito dificil fazer um resumo da obra pois esta não tem início, meio e fim, não tem um fio condutor. O livro centra-se então em 3 personagens, Ana Emília, Alice e Osvaldo. A obra divide-se em 6 capítulos, intitulados de "Uma da manhã", "duas da manhã", "tres da manhã", "quatro da manhã" e "cinco da manhã". Numa simples noite, pela madrugada adentro, as personagens recordam momentos do passado.
O episódio mais importante de todo o livro é o do suícidio da filha de Ana Emília, que com 15 anos se enforca numa macieira, sendo a sua boneca e as restantes árvores do quintal as unicas testemunhas desta morte.
Ana Emília abre e fecha a narrativa, é amante de Osvaldo, que não a visita mais, e viúva de um colega de Osvaldo, que tinha sido assassinado por este. Ana Emília centra-se no suícidio da sua filha, no assassinato do seu marido e na espera pelo amante nos seus discursos.
Alice, ex-enfermeira que mora em Évora, vive com o seu marido, Osvaldo, e vive perseguida por ter abortado o filho. A figura do berço que apodrece no pátio da casa atormenta-a, assim como a sua infancia pobre e o conhecimento pela amante do seu marido.
Osvaldo fala da sua amante e do suicídio da sua filha, da prisão de Peniche, um espaço onde aconteciam as sessões de tortura de Osvaldo aos presos, dando-lhe prazer. Esta prisão/forte foi erguida sobre rochedos, em frente do mar, e todas as personagens durante a noite escutam as ondas batendo nos rochedos. As 3 vozes da narrativa conhecem as histórias das outras, tendo assim os 3 as vidas entrelaçadas. Os mortos estão tambem muito presentes na narrativa, ressuscitando literáriamente e ganhando voz.
O leitor é desafiado a todo o momento pois não sabemos o que é verdade e o que é mentira.
A certa altura António Lobo Antunes é ficcionado passando de escritor a personagem, e participa na ação do livro, tornando ainda mais dificil perceber o que é real, e o que é ficção.
Ana Emília decide terminar o livro em nome da sua filha dizendo: "Escrevo o fim deste livro em nome da minha filha que não pode escrever".
No final do livro, nada se esclarece, nada fica claro e a ultima frase do livro avisa-nos: "aquilo que escrevo pode ler-se no escuro".

domingo, 13 de novembro de 2011

Morte do Lidador

Olá turma! Encontrei um resumo na net que talvez dê jeito ferente à Morte do Lidador.
Aqui está:
"Diz a lenda que Gonçalo Mendes da Maia, nomeado Lidador pelas muitas batalhas ganhas contra os Mouros, decidiu celebrar os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar. Sabia de antemão que o exército de Almoleimar era muito superior ao seu mas, mesmo assim, saiu da cidade de Beja com trinta cavaleiros e trezentos homens de armas.
A batalha começou e ambos os exércitos se debateram com coragem. Gonçalo Mendes e Almoleimar lutaram entre si. Um golpe fatal matou o mouro e outro deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte. OLidador, moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que se puseram em fuga. O esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe agravou os ferimentos do Lidador, que caiu morto. Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta última vitória do Lidador."

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"A Relíquia", de Eça de Queiroz

   Escrita por volta de 1987, A Relíquia retrata a vida de um rapaz (Teodorico Raposo) que aos sete anos, quando fica órfão, é entregue a uma tia rica muito ligada à religião e ao culto, a D. Maria do Patrocínio (titi). Com o intuito de se tornar herdeiro da titi, Teodorico passa a frequentar sempre a igreja, ir à reuniões religiosas e a rezar várias vezes ao dia. Mesmo não gostando de o fazer, sabe que é a única forma de conseguir algum carinho por parte da titi.
   Por ter sofrido um desgosto de amor, Teodorico decide fazer uma peregrinação até à Terra Santa, prometendo à titi um dia voltar e lhe trazer várias relíquias, entre elas uma que se destaca-se e que ela seria a razão pela qual a titi o iria adorar para sempre.
   Nessa viagem, quando Teo passa pelo Egipto conhece a Miss Mary que no dia em que ele tem que se ir embora, para continuar a viagem, lhe oferece uma camisa de noite embrulhada no papel de cetim, com um bilhete.
   Já no Jordão, Teo encontra um galho, que o transforma numa coroa de espinhos, supostamente a coroa que Jesus teria usado em vida. Embrulhou esta prenda num papel de cetim, idêntico ao da camisa.
   Porém a titi não gostava que ele tivesse relações com raparigas e nem podia sonhar que tal coisa acontecia. Para prevenir que a titi não fosse remexer na sua mala, Teo decidiu desfazer-se de algumas das relíquias e prendas que tinha conseguido arranjar, entre elas a camisa de noite. Porém ao tentar-se desfazer da camisa, desfez-se da coroa.
   Quando regressa a casa e entrega a prenda (a famosa relíquia) a titi fica escandalizada ao ver a camisa de noite com o bilhete que a MM lhe tinha dado: “Ao meu Teodorico, meu portuguesinho possante, em lembrança do muito que gozámos. Assinado: M.M.”.
   Teodorico foi posto na rua, com algumas das outras prendas que tinha trazido.
   Foi com elas que se sustentou, pois ao vende-las ganhavam dinheiro para pagar a estadia no hotel onde ficara a dormir.
   Foi nesse hotel que encontrou um velho amigo e que mais tarde veio a saber que a titi tinha morrido e deixado a herança a um padre muito amigo dos dois e à rapariga que o traíra (causadora de todos os problemas).
   Uns dias mais tarde, conheceu a irmã desse amigo com quem casou e teve filhos. Ficaram ricos graças à fábrica que a sua mulher tinha.

   Teodorico era muito mentiroso, porém a uma determinada altura do texto ele ouve uma voz. Era a sua consciência que o levava para o “bom caminho”, o caminho da verdade e honestidade.
   Eu quando comecei a ler esta obra pensei que não fosse gostar, pois ela era muito descritiva e complexa. Porém, no final da sua leitura, pude-me aperceber que tinha uma história interessante e parecida com algumas situações da realidade.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

" O Fogo e as Cinzas", Manuel da Fonseca

O livro “O Fogo e as Cinzas”, de Manuel da Fonseca aborda um conto que nos fala de um homem  que todos tratavam por Sr. Portela – a personagem principal – que se debate entre um amor que gostava de ter vivido e uma velhice solitária.
Este conto, movimenta-se desde do início até ao fim com uma história entre o passado e o presente, daí ser utilizado o recurso expressivo analepse.
Os sentimentos mais presentes neste texto são: a saudade, a nostalgia, a melancolia e uma mágoa profunda. Estes são sentidos essencialmente pela personagem principal.
O conto fala de uma realidade que ainda hoje é actual e embora se tente travar, torna-se impossível; refiro-me ao primeiro capítulo do livro “O Largo”, que nos retrata o Largo – um local cheio de vida, onde tudo acontecia: brigas, brincadeiras, boatos, … – que era o centro do mundo para quem habitava ali. Mas com a vinda do comboio, a agitação mudou-se para a Vila. Toda aquela vida do Largo desaparece, até ficar com a população reduzida aos velhos reformados.
Depois do autor nos situar no espaço, a história desenrola-se nas lembranças dos seus amigos: Mestre Poupa, um bombeiro já falecido e André Juliano, que cumpre uma pena de prisão; do seu amor não correspondido, Antoninha das Dores, da qual guarda a imagem desta, acabada de ser salva de um incêndio, nos braços de Chico Biló despida; entre outras lamúrias.
A maioria destas recordações são passadas num café da Vila, onde todos os dias – sendo já como uma rotina – o Sr. Portela vai e toma um café enquanto fuma os seus cigarros.
Escolhi ler este livro, porque de início estava um pouco perdida sobre qual o critério de escolha que deveria ter e optei por fazer a selecção dos títulos mais apelativos, lendo de seguida a sinopse do mesmo e lendo também a página final. Depois deste processo, escolhi o livro em cima apresentado: “O Fogo e as Cinzas”.
Não gostei muito deste conto, pois as repetidas vezes em que o autor descreve actos do passado e do presente da vida da personagem principal, faz com que o livro se torne confuso e a história perca nexo. Apesar deste incidente, consegui retirar do conto uma citação  que aprecio e destaco: “Nunca a sentira tão feminina e frágil, tão necessitada e sem amparo, da sua imensa força. E, baixando a cabeça, de lábios estendidos, António da Alba Grande procurou a boca da rapariga.”. Esta citação decorre quando António da Alba – um das personagens secundárias do conto – tem que escolher qual das duas gosta mais,  Adriana, uma rapariga de classe alta ou Zabela, uma rapariga de classe baixa, que aos olhos de Adriana era uma reles empregada.

Correção do Teste

Grupo I


1. Identifica e caracteriza o sujeito poético presente neste poema. Justifica a tua resposta. (10 pontos)
Na Cantiga de Amigo que aqui se apresenta existe a voz de um sujeito poético, as "meninhas". De acordo com o poema, estas "meninhas" são "fremosas" (verso 9), "en cós" (verso 9), "de bom parecer" (verso 15), expondo a sua beleza e graciosidade feminina.

2. Determina que a caracterização do sujeito poético está de acordo com aquilo que são as convenções deste género de poesia. (20 pontos)
A(s) menina(s), enquanto sujeito poético deste género de cantigas aparece normalmente caracterizado com marcas que a(s) identicam com a sua beleza juvenil, a sua formosura, mas também, em certos ambientes, com a ideia de saudade por exemplo.

3. Ao longo deste poema são referidas outras personagens.
3.1. Identifica-as. (5 pontos)
Ao longo do poema são referidas outras personagens que são as mães ("madres")  e os amigos.

3.2. Caracteriza-as. (10 pontos)
As "madres" surgem ao longo do poema com a responsabilidade de cumprirem promessas "candeas queimar". Por esse motivo elas rezam e estão em peregrinação. Os amigos, por sua vez, são nomeados ao longo do poema como aqueles para quem as atenções das "meninhas" de dirigem. A eles cabe simplesmente a tarefa de observar ("cousir") as "meninhas" que, para esse efeito, se preparam cuidadosamente de maneira a seduzi-los.

3.3. Refere qual o papel que cada personagem desempenha ao longo do poema. (10 pontos)
As meninas desempenham o papel de bailar e seduzir os amigos. As mães são as personagens responsáveis pela peregrinação e pelo cumprimento de promessas. Aos amigos resta apenas apreciar a beleza natural das meninas.


4. Identifica o espaço referido ao longo do poema e determina a sua importância ao nível da classificação desta cantiga. (10 pontos)
O espaço referido ao longo do poema é a Ermida de San Simon de Val de Prados. Em virtude de existir a nomeação das mães e das meninas enquanto cumpridoras de promessas, em peregrinação, podemos classificar esta cantiga como uma Cantiga de Romaria. No entanto as diversas alusões ao motivo da dança permitem-nos classificar também esta cantiga como uma Bailia ou Bailada.

5. Descrever a ação contida nesta cantiga. (20 pontos)
A Cantiga nomeia várias ações. Há uma alão central que consiste no facto de umas "madres" partirem em peregrinação a San Simon de Val de Prados. É no contexto desta peregrinação que são referidas as ações praticadas pelas meninas e pelos amigos. A saber: as meninas vão bailar; os amigos vão observar as danças das meninas.

6. Como explicas que, embora o sujeito poético seja feminino, o autor do poema seja masculino. Justifica a tua resposta. (15 pontos)
As Cantigas de Amigo obedecem na sua formulação a um conjunto de regras convencionais. A este respeito podemos afirmar que, a exemplo da cantiga apresentada, o poeta compõe os seus versos servindo-se da voz de uma menina que tem por objecto o amor por um amigo.


Grupo II


1. Determina que o poema explicita o seu próprio projeto, quanto do tipo de cantiga e ao modelo poético. Justifica a tua resposta. (20 pontos)
Quanto ao tipo de Cantiga podemos classificar este poema como uma Cantiga de Amor. O trovador, dirigindo-se à sua amada identifica-a como um ser superior ao qual presta vassalagem. O modelo que subjaz a esta cantiga é o modelo provençal, tal como podemos observar em "Quero eu em maneira de proençal" (verso 1).

domingo, 23 de outubro de 2011

125 Poemas - Antologia Poética de Joaquim Pessoa

Li a Antologia Poética de Joaquim Pessoa devido a uma certa curiosidade em ler poesia, e por ser um livro que já ha muito queria ler mas nunca tinha lido. 
Apesar de ter poemas um pouco menos interessantes ou digamos assim, bonitos de ler e ouvir, tem muitos outros poemas lindíssimos que nos prendem ao livro por completo e nos fazem querer ler mais e mais, e acabamos assim por mergulhar no livro, tornando-se este um livro bastante fácil de ler.
Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro em 22 de fevereiro de 1948. Iniciou a carreira no Suplemento Literário Juvenil, do Diário de Lisboa. O seu primeiro livro veio a público em Março de 1975. Ao último original foi atribuído o Prémio de Poesia de 1981 da Secretária de Estado da Cultura. Segundo o poeta e ensaísta David Mourão Ferreira "o largo sopro de muitos dos seus poemas faz de Joaquim Pessoa um dos poetas progressistas de hoje mais naturalmente de capazes de comunicar com um vasto publico".
Por ultimo, aqui está um poema que eu não li nem referi na apresentação.

Amor Combate

Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.

Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:

O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É Primavera.
Amor intenso. amor imenso. amor instante.
O nosso amor é uma arma. É uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.

O nosso amor é pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa.
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.

Deixa-me soltar estas palavras amarradas
para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.

Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.
são a flor do aloendro.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Seguir Em Frente por Andre Dinis
A vida dá muitas voltas...
E quando achamos que a última volta está dada
Acontece uma revira volta!

... Somos surpreendidos com o inesperado,
mas o sentimento continua agravado.

Somos Invadidos por uma tristeza imensa,
mas com o passar do tempo a dor já não é tão intensa.

Somos interrogados por nós mesmos,
mas a resposta não se explica nem que tentemos.

Somos algo pensativo,
mas a cabeça não sabe identificar o que fizemos de significativo.

Mexemos conosco, remexemos e voltamos a remexer e sabemos
que na nossa cabeça temos de meter "se aconteceu é porque tinha de acontecer"

O destino ainda tem surpresas
que aguardam por aparecer,
mas ninguem sabe se nos vão favorecer

Como descobrir?
SEGUE EM FRENTE e aguarda por elas
mais tarde ou mais cedo descobrem-se...

Apresentação do livro "Auto da Alma"

Li o livro "Auto da Alma" de Gil Vicente, pelo facto de gostar bastante de Teatro e de querer ver obras distintas do "Auto da Barca do Inferno" deste autor. Parti para esta leitura talvez com algumas ideias do que seria esta obra, pelas opiniões que já tinha ouvido...
A história começa enquanto a Alma, acompanhada pelo Anjo, vão caminhando rumo ao Paraíso. No entanto, o Diabo aprece e começa a aliciar a Alma, oferecendo-lhe coisas, nomeadamente dizendo que ela poderia retornar à vida.
A princípio a Alma resiste... Mas essa resistência não dura muito mais, pois ela acaba por ceder a uma das ofertas do Diabo, e veste um luxuoso manto e uns sapatosde Valência (muitos conhecidos e conceituados na altura).
Ao ver que a Alma cedeu ao Santanás, o Anjo, apesar de um pouco desapontado com a atitude dela, não a abandona e continuam o percurso rumo ao Paraíso.
Acabam por chegar à Igreja (que aprece no fundo como uma figura soberana) onde estão os quatro Doutores da Igreja: Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Tomás e São Jerónimo. Lá, a Alma cofessa que não sabe de onde vem e não sabe bem quem é.
Entretanto, o Diabo está lá fora furioso e pensa que a Alma vai sair da Igreja e vai ter com ele. Mas isso não acontece.
Ao ouvir a história de Jesus Cristo, contada pelos quatro Doutores auxiliados pela Estalajadeira (que é como é apresentada a Igreja), a Alma arrepende-se de ter aceite as prendas do Diabo e de ter pecado. Despe o manto e descalça os sapatos e acaba por ficar com o Anjo.

Eu associei uma passagem específica do livro, quando a Alma confessa que não sabe de onde vem, assim como não sabe bem quem é, à Filosofia. Pois, no fundo, estas dúvidas desta personagem acabam por se tornar questões filosóficas. Isto corresponde à seguinte passagem do livro:
"Não sei pera onde vou:
sou selvagem,
sou ua alma que pecou
culpas mortais
contra Deos que me criou
à sua imagem
  Sou a triste, sem ventura,
criada resplandecente
e preciosa,
angélica em fermosura
e per natura,
como raio reluzente
lumiosa.
E por minha triste sorte,
e diabólicas maldades
violentas,
estou mais morta que a morte
sem deporte,
carregada de vaidades
peçonhentas."
No entanto, para mim, esta obra teve uma significado muito maior do que o facto de estar ligado à Filosofia. Aqui, Gil Vicente, realçou a importância que a amizade pode ter. O facto de um amigo não ser aquela pessoa que está sempre lá para nos dizer que estamos a fazer tudo bem, mas sim aquele que nos chama a atenção quando estamos a ir por caminhos errados e quando tomamos decisões menos conscientes. Amigo é aquela pessoa que, como o Anjo foi para a Alma, nunca nos abandona, apesar de nem sempre sermos correctos para com ela.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O que é para mim a poesia...

       Para mim a poesia é a capacidade mais honesta que alguém tem em fazer transparecer por palavras o que sente em determinada altura.       
      Podermos escrever o que pensamos, o que sentimos, as nossas emoções e as vivências de toda uma vida é espectacular. É ainda mais importante que essas palavras sentidas sejam comentadas e abordadas por pessoas de fora, pois como não estão presentes na nossa vida dão uma opinião imparcial sobre tudo o que escrevemos. Mas por vezes o resultado não é o que esperamos, pois essas pessoas podem formar opiniões e pontos de vista diferentes do que tínhamos pensado ao construir o poema, partindo do mesmo inicio (o texto que nós escrevemos).

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O que é para mim poesia?

A poesia é um género lírico que recorre a muitas figuras de estilo e usa muito a conotação em cada frase que afirma, sendo considerada uma arte devido à estética da sua linguagem literária. Nela retrata-se estados de alma, amores, saudades, entre outros assuntos.
Para mim, a poesia é algo muito pessoal, quem a escreve passa para o papel um sentimento profundo.
Quando alguém lê poesia, tenta compreender o que leu, depois de certa forma vai “desvendar” as palavras que a compõem até apreender o significado do poema, acabando por criar uma opinião sobre ele e por vezes se apropriar do mesmo, revendo-se ou reconhecendo o que lê.
Na minha opinião, quando um poema é dado a conhecer pela primeira vez ao ouvinte, o declamador deve lê-lo de uma forma fiel, tentando transmitir o sentimento real do escritor, captando os ouvintes, entrosando-os no poema; tornando-os poetas enquanto ouvintes.

O que é para mim a Poesia?

Na minha opinião a Poesia é uma forma de escrita que, dependente dos poemas, é um pouco subjectiva, pois pode ter várias interpretações. É uma forma de o escritor se expressar... É pôr todos os sentimentos no papel, onde as palavras soam de forma melódica. No fundo, a Poesia é uma forma do Poeta se fazer notar. De modo directo ou inderecto, todos mostram um lado diferente de si quando escrevem, sendo que cada um pode ter uma marca própria. Para mim, é impossível ficar indiferente a um poema, seja pela forma como é escrita, pela sua mensagem, ou apenas por um simples verso que pode ter tanto significado. A Poesia é maravilhosa, e é uma forma de ver a vida.

O que é para mim poesia?

Para mim poesia é um conjunto de estrofes que exprime sentimentos de uma maneira mais bonita e mais complicada de entender do que um simples texto narrativo.
Poesia é sentimento puro, entender cada frase é a única maneira de desvendar e entender todo o poema em si.
Eu acho que na poesia nao importa sobre do que se trata o texto mas sim a maneira como é falado, porque há textos poéticos que dizem coisas completamente descabidas mas que por trás tem uma mensagem especial e poesia a meu ver também é isso, é interpretar as coisas de uma maneira diferente de como as vemos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Terminologia

As cantigas ou são ateúdas ou não o são. Ateúdas são aquelas em que o discurso continua de cobra para cobra, com encavalgamentos sucessivos. Existem ateúdas sem finda e ateúdas com finda. 


Finda é o destacado rebordo final usado por certas cantigas para generalizações resumitivas do assunto delas. Em geral, as rimas da finda são as últimas da última cobla.


Deve considerar-se a cobla como a unidade de estrutura e de sentido de uma cantiga. A cobla é afectada por repetições internas que são antes de mais "exercícios" de coesão discursiva: o dobre e o mordobre (ou mozdobre).

Dobre é a repetição de uma palavra na cobra e (optimizando) na mesma posição estrutural. Há dobres internos e dobres em posição de rima. Diferentes cobras escolherão diferentes palavras para dobre.


Mordobre é a repetição da mesma palavra diferentemente flexionada, em posição estrutural idêntica, e em rima ou não. Podem considerar-se imperfeitos os dobres e os mozdobres quando estes não ocorram em todas as coblas, ou quando seja diferente a sua posição estrutural.

Rima
Palavra perduda é o nome dado ao verso que em todas as coblas e na mesma posição estrutural aparece sem correspondência rimática.

Palavra rima é o nome dado ao processo pelo qual uma palavra ou um sintagma se repetem em posição de rima na mesma posição em todas as estrofes. Quando existam excepções a palavra rima será imperfeita; quando se conjuguem dobre e palavra rima, teremos a palavra rima dobrada.


Rima derivada é o nome dado ao processo pelo qual palavras em variação flexional, ou derivadas por sufixação ou prefixação, aparecem numa cantiga em posição de rima, de forma mais ou menos sistemática. Pode entrar pelos domínios do mordobre.


Paralelismo consiste grosso modo na repetição de estruturas sintáctico-semânticas, com finalidades rítmicas e para sublinhar intencionalidades de sentido.

Paralelismo literal consiste na repetição de um verso em coblas diferentes (normalmente sucessivas) com variação no final. A variação atinge-se por substituição de sinónimos ou por transposição quiásmica.

Fala-se de repetição literal quando o verso é integralmente repetido, quer no refrão, quer fora dele.

Leixa-prem consiste na repetição integral de um verso com uma cobla de intervalo, tal que o segundo verso da primeira cobla é o primeiro da terceira e assim sucessivamente. Prefere acentuadamente os dísticos e vem sistematicamente associado ao paralelismo literal.

As cantigas são estruturadas como géneros, classificáveis em maiores, menores e/ou contaminados. A tripartição opera com os géneros maiores: cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e mal dizer. Os outros tendem a ser recolhidos na área destinada ao escárnio e mal dizer.

Américo Lindeza Diogo, Lírica Galego-Portuguesa, do que foi sendo, do que possa ser

domingo, 9 de outubro de 2011

Cantiga de Amor de Sofia Serra

Como a chuva cai do céu,
Caiu-lhe o coração
E no meio de tanta emoção
Mesmo sem ser amado
Continuava apaixonado

Como a chuva bate no chão,
Bate-lhe o coração,
Doi-lhe o peito com força
Ao pensar naquela mulher,
que o tanto fazia sofrer

Como o vento rouba tudo,
Perdeu sentido o mundo
E tudo o que sentia no fundo.
E pela noite fora sofreu
Ao pensar em tudo o que já viveu.

sábado, 8 de outubro de 2011

Cantiga de Amigo de Inês Soares

Cantou ela o que eu sinto
Por me ver fremosa
Mia irmana, treides comigo
Bailemos nós por meu amado
    Bailemos i, bailemos agora
    Antes que ele se vá embora

Contou ela o que eu sinto,
Por só me ver de uma maneira
Enamorada por meu amigo
Bailo eu a noite inteira
    Bailemos i, bailemos agora
    Antes que ele se vá embora

O Pomar das Laranjerias-Madredeus

Dom Dinis "O que vos nunca cuidei a dizer" (Cantiga de Amor)

1. MEDIEVAL MUSIC. GALICIA. ONDAS DO MAR DE VIGO

A Cantiga de Escárnio e Mal-Dizer

«Este género trovadoresco, de valor poético restrito, tem uma larga significação histórica e social. Nele se exprime a visão pitoresca e satírica que os nossos homens medievais tinham do seu próprio mundo. O estilo rude e obsceno do escárnio é um grande documento linguístico, pela raridade do seu léxico, particularismo e variedade das nomenclaturas, afoiteza e espontaneidade dos giros sarcásticos. Com a língua crua aparece o mundo concreto que ela exprime. À falta de uma prosa arcaica autóctone de verdadeira ficção, a cantiga de escárnio e mal-dizer, com as Cantigas de Afonso o Sábio, é a nossa primeira literatura narrativa, galeria de retratos e quadro de costumes - conto e chufa.
A sátira provençal conhecia três modos: o «sirventês» moral, que satirizava a cavalaria em crise, as mulheres e o clero devasso; o «sirventês» político, critica das guerras feudais e cismas religiosos; enfim, o pessoal, ou sátira privada. Também a nossa poesia satírica primitiva acusa planos diferentes. A cantiga de «escarnho» era impessoal e velada, uma verdadeira carapuça. A de mal-dizer chamava as pessoas e coisas pelos seus próprios nomes, criando uma literatura grosseira, pré-rabelaisiana, de enormidades e violências proferidas quase ingenuamente. Vinham depois os joguetes de arteiro, as risadilhas, a cantiga de seguir ou paródia, e a própria tenção lírica com ressaibos de chufa. Assim a verdadeira poesia alternava com o gosto polémico e faceto, taõ do feitio peninsular. As cantigas de amor e de amigo degeneravam algumas vezes em puros escárnios de amor. Meter a ridículo as «dõas» trocadas pelos amantes, cantar as velhas presumidas e feias, as intimidades de alcova, as raparigas pintadas, são preferências de autênticos poetas como Pedr' Amigo de Sevilha, Guilhade, Pero Garcia Burgalês e Pero de Armeá.
Outros, troçando do cavaleiro famélico e do senhor pobre e presumido, antepassado dos fidalgos de Gil Vicente, denunciam o trovador que fala dos Lugares Santos e alardeia sabenças, os poetas com fome e sem talento, os pais que aposentam num bom casamento as filhas, os rábulas, os maus juízes, os bruxos, as éguas lázaras.
Mas o puro género satírico é o que se apodera de escândalos colectivos ou de pessoas escandalosas de significação social. A felonia dos alcaides de D. Sancho II indigna Vuituron, Diogo Pezelho e outros poetas. Burgalês e Pero de Ambroa tomam à sua conta uma bailarina ou soldadeira galega, a Balteira, que seduzia os grandes senhores, jogava os dados, se fez cruzada numa surtida de Afonso X a Tunes e acabou freira no mosteiro do Sobrado, em estilo de grande pecadora. Outros tomam de ponta D. João Soares Coelho por ter cantado uma ama de leite na corte de Afonso o Sábio. É todo um certame de gazetilhas, para que contribuem Esgaravunha, Vuituron, Alvelo, Guilhade e dois grandes jograis, Lourenço e Bolseiro. Lourenço foi pedra de escândalo de uma larga e azeda polémica, a primeira questiúncula de capelas da literatura portuguesa. Era jogral do trovador Guilhade, e brigaram. Lourenço atreveu-se a aconselhar o amo a mondar as cantigas; Guilhade ameaçou que lhe abria a cabeça com o próprio citolon. Outro poeta de estirpe, D. João de Aboim, chama-lhe asno. Rodrigu' Eanes barra-lhe o acesso ao paço, e o pobre Lourenço, desabafando contra a avareza e ganância dos privados, refugia-se na corte de Afonso X, onde Joan Vasques insinua que ele teria fugido de Portugal por matador ou ladrão. Mas vive lá próspero e tranquilo.
Outras vezes são os poderosos que se queixam de quem lhes está por baixo. É Afonso X, que, abandonado por muitos dos seus cavaleiros na repressão da revolta dos muçulmanos andaluzes (1260), pede à poesia a desforra de uma bela invectiva (CV, 77) ou descreve com brio a fuga dos ginetes cristãos na refrega de Alcalá, quatro anos depois (CV, 74). Finalmente, a troça aos cavaleiros e infanções que descem de condição e exploram o povo dos concelhos tenta Pero da Ponte e outros poetas do tempo. O cancioneiro escarninho ilustra como uma água-forte as injustiças e podres da sociedade medieval. Gravado com verve e brutalidade, é o reverso da nossa medalha lírica. A flor da avelaneira e a do verde pinho caem e deixam no seu lugar o sincero estadulho lusitano.»

Vitorino Nemésio

La Reverdie - Troppo perde 'l tempo [Lauda, Italian Anon. and Jacopone da Todi, 13th century]

A Cantiga de Amigo

«A grande originalidade da cantiga de amigo é o artifício confessional que lhe dá a designação. O poeta fala como se fosse a mulher; põe-se nos casos dela, imagina o seu estado - esperança, sobressalto, decepção. A mascarilha feminina trai um modo sub-reptício de configurar sentimentos e uma homenagem do varão, que ao mesmo tempo dá voz a quem por insuficiência ou recato a não tem.
Podemos distinguir dois tipos deste género, do ponto de vista formal: a bailada (a que alguns chamam impropriamente serrana ou serranilha, e cossante, - de de «cosso», CURSU: «dança»), composição tradicional, descritiva, de talhe paralelístico, caracterizada por uma espécie de  espiral rítmica que o refrão vai monotonamente fixando: e a cantiga culta, contaminada pelo vocabulário cortês, de paralelismo reduzido como na cantiga de amor, e às vezes sem refrão (cantiga de mestria). Quanto aos temas e entrecho, distinguiremos: a pura confidência lírica, ao modo da cantiga de amor, mas mais verdadeira e vivida; a tenção ou diálogo com o amigo, a amiga, ou a mãe. As conversas entre esta e a filha sobre os propósitos e merecimentos do namorado constituem o tipo de tenção mais curioso. A mãe é discreta, vigilante, severa ou concessiva, verdadeiro poder moderador ou anjo tutelar dos leais namorados. Citaremos enfim dois subgéneros, raros no galego-português: um, de origem francesa e aparentado com a tenção, a pastorela, em que um cavaleiro requesta a pastora cauta ou indiferente: verdadeira cantiga don-juanesca, quando não é um simples desabafo de pastora; e a alba, de fonte erótica, tipo harmonioso de poesia de luz e de júbilo, de que só Nuno Torneol deixou um exemplo perfeito.
Mas mais importantes do que as formas da cantiga de amigo são as suas situações e matizes sentimentais. O amor galego-português aparece tenso e súbito: um simples olhar selou para sempre dois destinos. Só a confissão é receosa, intimamente trabalhada pelo recato e pela dúvida. A própria certeza do amor correspondido gera uma alegria difusa, que se fecha consigo à chave. E logo concessões a meio, arrufos, pequenas provações calculadas. Só o sentimento do perjúrio, a imagem de «o que mentiu do que pôs comigo», abrindo o coração da amiga dá força e desespero a um amor de mágoa e mesura. A mãe então suaviza, aconselha, compreende. Às vezes vai mais longe, e leva o seu recadinho... Mas o papel de intermediária cabe sobretudo à amiga da mesma idade - uma mediação inocente, avisada, sem descaros de Celestina. Assim a cantiga de amigo se mantém nos limites de um pequeno drama lírico, de amor depurado e profundo, nascido da vida caseira e criado no longo apartamento.»

Vitorino Nemésio

Os Géneros Galego-Portugueses

«O nosso lirismo medieval oferece dois aspectos: estranho e autóctone. A cantiga de amor, forma culta e cortês, nasce do contacto dos nossos trovadores com a poesia provençal. A cantiga de amigo, de molde paralelístico  e inspiração fluente, é fundamentalmente tradicional. Mas as duas interpenetram-se e fecundam-se: há ressaibos paralelísticos nalgumas cantigas de amor, cortesia e requinte nas de amigo. O labor sábio e a experiência psicológica da arte trovadoresca enriqueciam naturalmente o género mais simples, que era o nosso. O prestígio estrangeiro começava por desnaturar a inspiração dos poetas nacionais que, como Martim Soares, desdenham da poesia de vilãos; mas, passado o entusiasmo da revolução e o aprendizado, a espontaneidade impunha-se. E em meados do século XIII a poesia galego-portuguesa desenha as suas feições inconfundíveis. A mulher é o seu objecto e um dos seus maiores agentes. Nas festas de Santiago de Compostela, centro de peregrinações religiosas que traziam de toda a România Ocidental, através do caminho francês, os romeiros jacobitas de cabaça no bordão e vieira no chapéu, as mulheres cantavam composições amatórias que a Igreja repelia ou policiava. As soldadeiras batiam adufe e castanholas, enquanto os jograis tocavam cítola. A própria condição da mulher recatada modificou-se com as repetidas ausências do homem no fossado, no ferido e nos serviços pessoais do Rei. As suas responsabilidades familiares aumentavam. A vida doméstica e dos campos gerava uma poesia íntima, feita da saudade dos ausentes, do recato das raparigas vigiadas pelas mães, dos desabafos e complacências das amigas e das vizinhas. É um lirismo burguês, insinuante, espalhado por segreis ou cavaleiros pobres, muito diferente da poesia subtil e aristocrática da Provença. A sua antiguidade transparece em arcaísmos de linguagem conservados no início da cantiga, que era em geral um tema tradicional que o poeta desenvolvia em versos encadeados.
Embora o foco de irradiação do lirismo galego-português fosse a Galiza, o culto de Santiago é menos representado que o dos santos locais de Riba-Minho: Santa Maria de Leiras, do Lago, de Leça, S. Servando, S. Leuter, S. Simon, Santa Cecília, S. Clemenço do Mar. Estes pequenos santuários tornavam-se centros de alusão poética; a cantiga de romaria fazia-se gracejo e coita de amor.
Tecnicamente, a cantiga de amigo - de que a de romaria ficou como simples variedade - caracteriza-se pela repetição de um motivo fundamental em versos paralelos, processo incisivo e simples, próprio das necessidades elementares do ritmo popular, periódico e dançado. A cantiga de vilãos seria cantada ao som do adufe. A liturgia fixaria a técnica responsória. Nos salmos, um coro cantava um versículo, outro cantava o versículo seguinte, e ambos, com todo o povo, atacavam a antífona como se fosse um refrão. O processo paralelístico da poesia popular ainda hoje é patente na muiñeira galega e na cantiga retornada da região de Moncorvo. Os trovadores cultos aperfeiçoaram este processo, chamado leixa-pren, iniciando cada estrofe com o último verso da anterior.
Apesar do fundo tradicional da nossa poesia trovadoresca, a cultura francesa, bem como a provençal, foi decisiva para o seu enriquecimento.
Muito antes da vinda de clérigos e cavaleiros franceses com D. Henrique e D. Raimundo havia sinais de influência transpirenaica no Noroeste da Península. O camino francés conduzia os romeiros a Santiago. Nas ermidas do Noroeste queimava-se cera de Paris. Celebravam-se na Galiza os feitos dos Doze Pares; Roldão era tido como santo; havia sufrágios anuais em Compostela por alma de Carlos Magno; importava-se a letra carolíngia; o rito galicano influía no culto católico. No século IX há portugueses que se chamam Pepinos, Raimons, Carlons. No século X circula dinheiro galicário; no século XI vestem-se saias franciscas; Afonso VI, Imperador, casa por duas vezes com princesas de França; estreitam-se laços com monges cluniacenses e cistercienses. No século XII D. Afonso Henriques dos terras estremenhas a cruzados: Atouguia, Louirnhã, Alenquer, etc. D. Sancho I alarga a colonização francesa a Vila «Franca», Sesimbra, Aldeia «Galega» - isto é, dos «galécios» ou franceses do sul, por oposição aos «francos» ou nórdicos.
Apesar destes contactos estrangeiros, inventariados por Lapa, a familiaridade dos nossos poetas com o lirismo provençal disseminado em toda a França fez-se fora daqui, durante a emigração em Leão, junto de Afonso IX, provocada pela conduta autoritária do nosso D. Afonso II. Fidalgos portugueses poetas, como D. Gil Sanches, filho de D. Sancho I e da Ribeirinha, e D. Abril Peres, neto materno de D. Afonso Henriques, refugiaram-se entre 1211 e 1216 na corte vizinha, onde trovadores provençais, como Aimeric de Péguilhan, Peire Vidal e Marcabru encontravam ambiente propício. Esses e outros estrangeiros deviam já conhecer a existência do nosso lirismo. Raimbaut de Vaqueiras (1158-1219), ao versejar em cinco línguas, não esquece um romanço que parece português corrompido. Raimon Vidal, nos find do Século XII, estropia a nossa língua em três versos; mas já Bonifácio Calvo, genovês tardio, se mostra seguro nela.
Os géneros poéticos galego-portugueses são três: as cantigas de amor, as de amigo, e as de escarnho e mal-dizer. A cantiga de amor é a ponte de passagem da técnica e do requinte provençalescos. Mas o carácter subtil e um pouco frio dessa poesia estrangeira humanizou-se no temperamento triste e saudoso dos nossos. Os sentimentos galego-portugueses, de uma gravidade anelante, sem esperança e quase sem desejos, fizeram da cantiga de amor uma pura confidência lírica, curta e diáfana. O refrão tradicional comunicou-se-lhe e deu-lhe uma cadência de onda, suspirosa e repetida. Os nossos poetas têm a consciência da originalidade do que fazem. D. Dinis, quando quer trovar à moda de fora, anuncia-o, e acusa os provençais de não serem poetas senão «no tempo da fror». A intimidade do nosso lirismo primitivo excluía os temas «vernais» da poesia da Provença: isto é, a pura descrição do tema primaveril. Só na pastorela e na alba os nossos falam do sol-nado e do «papagai», do «estorninho» e de «tôdalas aves do mundo». O resto são tristezas de amor, encontros na vila, na fonte volvida pelos cervos, no adro da ermida serrana. Os protestos de amor até à morte e as queixas de abandono exprimem-se em composições que têm o contraponto do refrão ou se desenham na secas proporções da mestria provençalesca.
O traço principal do amor cortês é a vassalagem à mulher. A expressão preito e menagem invade a cantiga de amigo, mas perde em sentido feudal o que ganha em dádiva pura. É uma rendição de sentimentos. No amor português trovadoresco não há os graus complicados de acesso do trovador provençal às graças da sua dama. Tudo se resume no simples «entendedor». ou seja o que sente e declara o seu coração cativo. O namorado ou amigo recebe da amiga uma «dõa» ou sinal, um pouco de cabelo ou garceta, às vezes o cordão da camisa. Isto lhe basta. Tem de ser comedido, fechar-se num afecto distante. Alguns, como Pero de Palmeira do Livro de Linhagens e o João Soares de Paiva de que fala o Marquês de Santilhana, ou Macias o enamorado, morrem de puro amor. O gosto da tristeza, o recalque, a fidelidade de olhos baixos, perspectivas de morte e de renúncia, uma solidão que sorri e se contenta de si são a substância e o timbre da nossa cantiga de amor.»

Vitorino Nemésio

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As Origens do Lirismo Medieval

«A mais antiga manifestação do génio literário português é a poesia trovadoresca. A sua origem liga-se ao problema das fontes de todo o lirismo românico, questão delicada e obscura.
A explicação mais ampla deste lirismo é a que atende ao estado social e cultural da Europa medieval: cavalaria; vivacidade tradicionalista dos povos romanizados; estética dos poetas latinos que, como Ovídio, dispunham de uma sólida retórica ao serviço do amor e da natureza; o gosto da dança e do canto; andanças de guerra e feira; o culto de Maria comunicado à vida mundana. A mulher começou a ter larga influência social na alta Idade Média. Assim como a Virgem intercedia a Deus pelos homens, a dona servia de medianeira aos vassalos junto do seu senhor. Daí toda uma série de costumes e festas populares e corteses que se polarizavam na mulher. A vassalagem política gerou uma vassalagem cultural de signo feminino e de fidelidade sentimental.
O amor fez-se intelectual e simbólico, fingido, «Cuidar» e «cosirar» (provençalismo) traduziam, na linguagem poética, o estado de íntima absorção do amoroso; «fenhidor» (provç. «fenher») significava uma ficção de amante, o vassalo de coração. Estes sentimentos traduziam, a par do requinte dos costumes, a secularização da arte e da vida interior. Não era uma literatura herética, mas era uma poesia profana, que, ao lado do culto cristão, explorava sentimentos naturais irresistíveis. E, em todo o caso, era uma forma de contágio dos afectos confessados (já não só religiosos) a toda a vida de relação.
Durante o Romantismo procurou-se explicar a poesia romântica medieval pela dos Árabes da Andaluzia. Mas o lirismo arábico clássico, ao contrário do nosso, era exterior e metafórico, sensual e colorido, sem as séries de temas simples e encadeados que o galego-português apresenta. É certo que Ibne Cuzmane, poeta cordovês falecido em 1160, deixou um cancioneiro de zéjeis em árabe vulgar matizado de romantismos, em que Julião Ribera quis ver influências galegas, contrabalançadas pelas da música arábica, na génese do nosso lirismo. Entre estas últimas figuram a importação ou adaptação de alguns instrumentos mouriscos: o arrabil, o alaúde, o adufe, o tambor. Mas a suposta filiação do rondel românico no zéjel arábico é contrariada pelo carácter deste, que aliás deriva de uma forma cultivada por Mocádem de Cabra, poeta cego do século X.
A explicação das origens da alba, da pastorela e da canção da mal-maridada (que quase não existe entre nós) pelas «caroles» ou danças de roda francesas também não se deve admitir. Engenhosa é a doutrina que filia os mesmos géneros e a sua graça primaveril nas antigas festas de Maio. Há evidentemente vestígios pagãos no gosto ocidental pela verdura e pelas fontes. Mas são tradições e práticas populares sem grande reflexo na nossa poesia erótica.
Em Santiago de Compostela, o culto do Apóstolo cujo corpo se dizia arribado às Espanhas desenvolveu uma poesia de santuário e da natureza, expressa em formas paralelísticas ingénuas. Os muçulmanos falavam, do Noroeste ao Sul da Península, um romanço mesclado de arabismos propagado aos moçárabes, o que prova o ascendente da civilização cristã sobre os primeiros. Os muçulmanos de Silves improvisavam na própria língua. Mas a cultura arábica, superior à nossa em ciência, nas técnicas e na arte de narrar, era-lhe liricamente inferior. A nossa cantiga de amigo não parece ter nada de comum com a poesia arábica.
O Romantismo, crente no génio anónimo do povo, inclinou-se também para a origem folclórica da poesia provençal, dialogal e bailada, referindo ao tronco arábico só a canção de amor. Mas a própria poesia popular nasce de autores pessoais. Os jograis, gente do chão, levavam a seiva da poesia do povo à poesia cultivada, não havendo lugar para distinguir geneticamente as duas.
Outra tentativa de explicação do fenómeno trovadoresco é a dos filólogos do médio-latim, que foi a língua de uma literatura rude e apaixonada. A sua poesia rítmica, cheia de sinceridade e de força, não seria indiferente aos poetas provençalescos. O clero médio-latinístico trovava de amor idealizado; os goliardos e clérigos vagantes arrastavam pelas tabernas as vozes do amor libidinoso. Mas o lirismo provençal permanece independente e novo em face dessa dupla erótica do território francês. A sua língua própria é a língua de oc: a do Languedoc, da Provença.
Porventura culturalmente influída pelo médio-latim eclesiástico, a poesia trovadoresca tem seiva popular nos seus temas e módulos, Os seus poetas chamam-se trovadores, palavra que não assentará, como se pretendeu, no verbo turbare, muito empregado na pesca (turvar a água), mas em tropare (fazer tropos ou trobos, como ainda se diz em Trás-os-Montes). O «trobo» profano seria um canto seria um canto parodístico e coreográfico, e recebia o nome de «versus». As formas litúrgicas compreendiam a ladainha, a sequência, o hino; as profanas também o rondel, e influenciariam com o seu fundo popular a rítmica e a métrica litúrgicas.
A cultura medieval, alatinada, cristã e cavaleiresca sobre um fundo pagão sempre pronto a aflorar, adaptando ao calendário católico o culto pagão das estações, dos bosques de das águas deu alma, matéria e sentido floral a toda a poesia românica, que é possivelmente um fenómeno compósito, aliança de múltiplas tendências.
Impressionantemente decisiva a favor da existência de uma poesia românica tradicional anterior aos trovadores galego-portugueses é a descoberta feita em 1948, pela hebraísta Stern, de vinte poesias em hebreu, as moaxás, terminadas por alguns versos em romanço moçárabe transliterados em hebreu – as jaryas, em que a moça morre pelo amante (habib), que lhe leva o coração e onde figuram a mãe e as irmãs confidentes. Garcia Gomez publicou depois análogas moaxás em árabe, renovando-se assim o problema das origens, esmerilado no sentido do tradicionalismo poético por Manéndez Pidal Dámaso Alonso, Eugénio Asencio e outros.»

Vitorino Nemésio