quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"Ensaio sobre a Cegueira", José Saramago

O livro “Ensaio sobre a Cegueira”, do recém-falecido José Saramago, começa com o relato de uma cena completamente banal – um homem que segue a sua rotina habitual, sentado no trânsito, à espera que o semáforo mude. No entanto, de repente tem um ataque de cegueira, afirmando que “vê tudo branco”. Várias pessoas correm em seu socorro, sem saberem que a cegueira é altamente contagiosa. Naturalmente, o número de vítimas desta misteriosa doença multiplica-se no espaço de dias. O governo decide agir, e decide que todos os cegos devem ser isolados num manicómio abandonados em quarentena com recursos muito limitados.                                          Aos cegos junta-se a mulher do médico (um médico que também apanhou a cegueira branca), que parece ser a única pessoa que esteve em contacto com um afectado e que não apanhou a doença, e que finge ser cega para acompanhar o seu marido.
A mulher do médico torna-se então a personagem principal do enredo, sendo como assim o “leitor na história”. É ela que observa, durante o tempo passado no manicómio, as situações que põe à prova a capacidade humana em tempos de desespero – lutas causadas pela falta de comida, compaixão pelos mais necessitados, actos de violência e abuso, grupos dominantes e submissos… Por fim, após incendiar a camarata de um dos grupos mais poderosos, conseguem fugir, apenas para descobrirem uma cidade profundamente afectada pela doença – imunda, repleta de lixo e cadáveres, onde os cegos que escaparam ao isolamento adaptaram um estilo de vida de nómadas primitivos.
Durante grande parte do livro, Saramago consegue pôr-se no ponto de vista da mulher do médico na perfeição. Consegue explorar a questão de o que será pior – ficar cego como todos os outros, ou ser a única pessoa que vê? O autor usa e abusa da personagem, trazendo à superfície todas as suas frustrações e receios face às atitudes do grupo, e à sua solidão. É uma personagem extremamente versátil, pois tanto exibe uma faceta vulnerável em minoria, como de certa forma também pode representar o papel de uma espécie de Deus; “guia” os cegos em tempos de desespero, tem um ponto de vista diferente de todos, vê e julga o que mais ninguém pode ver e julgar.                    Quem já leu Saramago sabe que a escrita dele é difícil de seguir, por vezes até maçadora e irritante. Sem dúvida alguma, é diferente. No que toca a regras de escrita, Saramago decide criar as suas, utilizando vírgulas para separar falas, poucos pontos finais, pouquíssimos parágrafos. Para ler o “Ensaio Sobre a Cegueira”, ou qualquer outro livro dele, é necessária uma concentração absoluta no que se está a fazer. Talvez Saramago pudesse escrever como todos os outros autores contemporâneos… Poder podia, mas não era a mesma coisa.
O livro é, acima de tudo, absolutamente frustrante. É frustrante, porque nos leva a ver estas criaturas a que chamamos animais racionais rebaixarem-se até não poder mais, a lutar entre si, a viver cada dia com um pouco mais de infelicidade. É depressivo, não ao ponto de nos fazer chorar, mas ao ponto de nos fazer não o querer ler mais, porque sabemos que não vai resultar de lá nada de bom. Ler este livro não é uma experiência agradável, e honestamente, duvido que lhe queira pegar outra vez. Quando chegamos ao fim, não entendemos qual foi o ponto de o ler. No entanto, houve ponto, mas é preciso escavar mais fundo para o encontrar. Ler o “Ensaio Sobre a Cegueira” foi um pouco como levar uma vacina. Não nos apetece nada. E quando acabamos, não podemos dizer que estávamos errados – foi horrível. E não voltávamos a fazê-lo por vontade própria.                            No entanto, ganhámos algo com isso, por muito que nos custe admitir. Há coisas na vida que não nos agradam, mas não podemos vendar os olhos e deixá-las passar à nossa frente. Mesmo que nos custe aceitar este relato sofrível, sinto que é uma história que devíamos todos conhecer. Mesmo se não gostarmos. Porque diz-nos muita coisa (muita coisa má), sobre o ser humano. E sobre como as pessoas são capazes de se degradar num minuto, se quiserem.
Há uns meses fui ver um filme. Um filme de cinema, com pipocas e tudo, chamado “Colisão”. E durante o filme, reconheci tudo o que havia para reconhecer – a narrativa, explorando também como uma epidemia (que se alastra neste caso mundialmente) pode mudar o mundo (para pior). Vai desde pessoas banais a espirrar banalmente às mesmas pessoas a assaltar outras, de pistola em punho, a atropelar os vizinhos no supermercado para chegar à prateleira dos remédios. O filme pode ser completamente diferente do “Ensaio sobre A Cegueira”, e até pode parecer desnecessário compará-los. Mas acho que no fundo, resume-se à mesma coisa. Não sei quanta vezes é que este conceito de degredo humano foi utilizado, tanto na literatura, como no cinema, talvez até já se tenha aplicado na vida real (sim, de certeza). Mas seja em que caso for, por muito aborrecido ou até mesmo deprimente que seja revê-lo, o “Ensaio sobre a Cegueira” é a melhor forma de o fazer.

A Cidade e as Serras

Gostei bastante do livro. O tema, como o próprio nome indica, é como uma viagem entre a Cidade (Paris) e as Serras (Tormes). A história começa com o Zé António a contar a história do Jacinto, seu amigo de infância. No início, estão ambos em Paris quando Zé António recebe uma carta dos tios que moram no Douro. Quando regressa de Portugal, passados sete anos, encontra Jacinto mais envelhecido e com aquilo que lhe pareciam “bugigangas”, mas que Jacinto lhe diz que são “avanços tecnológicos”.  Zé Fernandes é convidado para ficar em casa de Jacinto (o 202 dos Campos Elísios), e aos poucos, vai-se apercebendo que o “Príncipe” (como lhe chamava) se começava a fartar da Civilização, então partem os dois para as Serras, levando várias bagagens, o negro Grilo e um escravo. Quando vão na viagem, há um atraso, e quando chegam à estação de Tormes, os dois amigos são praticamente “atirados” para fora do comboio, ficando as malas, o escravo e o Grilo no comboio, que seguia caminho para o Porto. Ao chegarem à propriedade de Jacinto, não têm nada, mas quando comem um arroz de favas preparado com o que havia em casa, Jacinto apaixona-se pela comida e decide ficar nas serras. Entretanto, o Zé Fernandes tem de ir a casa dos tios, pois o tio morrera, e a tia ficara muito sozinha. Jacinto, querendo prestar condolências, vai até à propriedade do amigo, e é onde conhece a prima Joana do Zé, e acabam por se casar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Primo Basilio

 Passado em Lisboa, nesta obra conta-se a história de uma casal ( Luisa e Jorge). A acção começa quando Jorge tem que viajar para o Alentejo por motivos profissionais. Durante a ausência do marido, Luisa é inesperadamente surpreendida pela visita de Basílio, seu primo e amigo de infância com quem havia trocado algumas cartas de cariz romântico. Seduzida por Basilio, Luisa começa a ter um caso com ele.
 Mas, Luisa tinha uma criada, Juliana, que, rancorosa e mesquinha, ao descobrir o segredo de Luisa e Basilio através de uma carta faz chantagem, obrigando Luisa a servi-la como se fosse ela a dona da casa, e exigindo uma quantia de dinheiro. A pobre Luisa sujeitou-se a todas as humilhações mas não tinha tanto dinheiro. Pediu-o a Basílio, mas este, já entediado das relações com Luisa e também sem dinheiro, regressa apressadamente para França.
 Com a chegada do marido, a situação complicou-se ainda mais. Luisa começa a ficar doente, abatida e sem apetite, facto que preocupa e indigna Jorge. Luisa, já desesperada, numa tentativa de solucionar o problema, conta tudo a Sebastião, um amigo de Jorge que, com a ajuda de um polícia seu conhecido, consegue tirar a carta das mãos da criada. A criada assustada pela inesperada interpelação, sofre um ataque cardíaco e morre. O sucedido, enche de alegria Luisa, que julga ver acabados os seus tormentos.
 Basílio tinha recebido em França uma carta de Luisa a pedir-lhe dinheiro, mais uma vez, à qual decide responder muito tempo depois de a ter recebido. Na carta promete enviar a quantia necessária para calar a criada. Esta carta acaba por ser lida por Jorge que, naturalmente, exige explicações à esposa.
 Vendo-se desmascarada, Luisa adoece e não resiste à morte. Após a sua morte, Jorge abandona a casa onde haviam vivido.
 Algum tempo depois, Basílio volta a Lisboa e procura Luisa. Ao ver a casa fechada, é informado que esta falecera.

Isto foi o resumo do livro "Primo Basilio" de Eça de Queiroz. É um livro bastante interessante, mas que por vezes contem algumas partes que se podem tornar aborrecidas. Para mim o mais interessante neste livro foi a maneira como Eça escreve detalhadamente todos os pormenores e caracteristicas de objectos e personagens. O que menos gostei foi o facto de ter acontecido a "traição" que é algo que a mim não me agrada e nem deve agradar a ninguém. Mais tarde irei publicar aqui no blog um texto com a minha opinião sobre a diferença de "honestidade e traição" nas amizades e nas relações amorosas como me foi pedido pelo Professor.

sábado, 19 de novembro de 2011

Ontem não te vi em Babilónia

Ontem não te vi em Babilónia, de António Lobo Antunes foi o 2º livro que eu li no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa.
Este autor, que cada vez menos se interessa em contar uma história, desenvolve uma escrita complexa, construindo personagens que se debruçam sobre o passado e as suas vidas, em discursos e episódios fragmentados, com pensamentos e frases inacabadas.
O livro trata de brutalidade, dor e morte mas tambem de traumas da sociedade portuguesa, como a repressão e violência durante a ditadura de Salazar.
É muito dificil fazer um resumo da obra pois esta não tem início, meio e fim, não tem um fio condutor. O livro centra-se então em 3 personagens, Ana Emília, Alice e Osvaldo. A obra divide-se em 6 capítulos, intitulados de "Uma da manhã", "duas da manhã", "tres da manhã", "quatro da manhã" e "cinco da manhã". Numa simples noite, pela madrugada adentro, as personagens recordam momentos do passado.
O episódio mais importante de todo o livro é o do suícidio da filha de Ana Emília, que com 15 anos se enforca numa macieira, sendo a sua boneca e as restantes árvores do quintal as unicas testemunhas desta morte.
Ana Emília abre e fecha a narrativa, é amante de Osvaldo, que não a visita mais, e viúva de um colega de Osvaldo, que tinha sido assassinado por este. Ana Emília centra-se no suícidio da sua filha, no assassinato do seu marido e na espera pelo amante nos seus discursos.
Alice, ex-enfermeira que mora em Évora, vive com o seu marido, Osvaldo, e vive perseguida por ter abortado o filho. A figura do berço que apodrece no pátio da casa atormenta-a, assim como a sua infancia pobre e o conhecimento pela amante do seu marido.
Osvaldo fala da sua amante e do suicídio da sua filha, da prisão de Peniche, um espaço onde aconteciam as sessões de tortura de Osvaldo aos presos, dando-lhe prazer. Esta prisão/forte foi erguida sobre rochedos, em frente do mar, e todas as personagens durante a noite escutam as ondas batendo nos rochedos. As 3 vozes da narrativa conhecem as histórias das outras, tendo assim os 3 as vidas entrelaçadas. Os mortos estão tambem muito presentes na narrativa, ressuscitando literáriamente e ganhando voz.
O leitor é desafiado a todo o momento pois não sabemos o que é verdade e o que é mentira.
A certa altura António Lobo Antunes é ficcionado passando de escritor a personagem, e participa na ação do livro, tornando ainda mais dificil perceber o que é real, e o que é ficção.
Ana Emília decide terminar o livro em nome da sua filha dizendo: "Escrevo o fim deste livro em nome da minha filha que não pode escrever".
No final do livro, nada se esclarece, nada fica claro e a ultima frase do livro avisa-nos: "aquilo que escrevo pode ler-se no escuro".

domingo, 13 de novembro de 2011

Morte do Lidador

Olá turma! Encontrei um resumo na net que talvez dê jeito ferente à Morte do Lidador.
Aqui está:
"Diz a lenda que Gonçalo Mendes da Maia, nomeado Lidador pelas muitas batalhas ganhas contra os Mouros, decidiu celebrar os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar. Sabia de antemão que o exército de Almoleimar era muito superior ao seu mas, mesmo assim, saiu da cidade de Beja com trinta cavaleiros e trezentos homens de armas.
A batalha começou e ambos os exércitos se debateram com coragem. Gonçalo Mendes e Almoleimar lutaram entre si. Um golpe fatal matou o mouro e outro deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte. OLidador, moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que se puseram em fuga. O esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe agravou os ferimentos do Lidador, que caiu morto. Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta última vitória do Lidador."

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"A Relíquia", de Eça de Queiroz

   Escrita por volta de 1987, A Relíquia retrata a vida de um rapaz (Teodorico Raposo) que aos sete anos, quando fica órfão, é entregue a uma tia rica muito ligada à religião e ao culto, a D. Maria do Patrocínio (titi). Com o intuito de se tornar herdeiro da titi, Teodorico passa a frequentar sempre a igreja, ir à reuniões religiosas e a rezar várias vezes ao dia. Mesmo não gostando de o fazer, sabe que é a única forma de conseguir algum carinho por parte da titi.
   Por ter sofrido um desgosto de amor, Teodorico decide fazer uma peregrinação até à Terra Santa, prometendo à titi um dia voltar e lhe trazer várias relíquias, entre elas uma que se destaca-se e que ela seria a razão pela qual a titi o iria adorar para sempre.
   Nessa viagem, quando Teo passa pelo Egipto conhece a Miss Mary que no dia em que ele tem que se ir embora, para continuar a viagem, lhe oferece uma camisa de noite embrulhada no papel de cetim, com um bilhete.
   Já no Jordão, Teo encontra um galho, que o transforma numa coroa de espinhos, supostamente a coroa que Jesus teria usado em vida. Embrulhou esta prenda num papel de cetim, idêntico ao da camisa.
   Porém a titi não gostava que ele tivesse relações com raparigas e nem podia sonhar que tal coisa acontecia. Para prevenir que a titi não fosse remexer na sua mala, Teo decidiu desfazer-se de algumas das relíquias e prendas que tinha conseguido arranjar, entre elas a camisa de noite. Porém ao tentar-se desfazer da camisa, desfez-se da coroa.
   Quando regressa a casa e entrega a prenda (a famosa relíquia) a titi fica escandalizada ao ver a camisa de noite com o bilhete que a MM lhe tinha dado: “Ao meu Teodorico, meu portuguesinho possante, em lembrança do muito que gozámos. Assinado: M.M.”.
   Teodorico foi posto na rua, com algumas das outras prendas que tinha trazido.
   Foi com elas que se sustentou, pois ao vende-las ganhavam dinheiro para pagar a estadia no hotel onde ficara a dormir.
   Foi nesse hotel que encontrou um velho amigo e que mais tarde veio a saber que a titi tinha morrido e deixado a herança a um padre muito amigo dos dois e à rapariga que o traíra (causadora de todos os problemas).
   Uns dias mais tarde, conheceu a irmã desse amigo com quem casou e teve filhos. Ficaram ricos graças à fábrica que a sua mulher tinha.

   Teodorico era muito mentiroso, porém a uma determinada altura do texto ele ouve uma voz. Era a sua consciência que o levava para o “bom caminho”, o caminho da verdade e honestidade.
   Eu quando comecei a ler esta obra pensei que não fosse gostar, pois ela era muito descritiva e complexa. Porém, no final da sua leitura, pude-me aperceber que tinha uma história interessante e parecida com algumas situações da realidade.