Ontem não te vi em Babilónia, de António Lobo Antunes foi o 2º livro que eu li no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa.
Este autor, que cada vez menos se interessa em contar uma história, desenvolve uma escrita complexa, construindo personagens que se debruçam sobre o passado e as suas vidas, em discursos e episódios fragmentados, com pensamentos e frases inacabadas.
O livro trata de brutalidade, dor e morte mas tambem de traumas da sociedade portuguesa, como a repressão e violência durante a ditadura de Salazar.
É muito dificil fazer um resumo da obra pois esta não tem início, meio e fim, não tem um fio condutor. O livro centra-se então em 3 personagens, Ana Emília, Alice e Osvaldo. A obra divide-se em 6 capítulos, intitulados de "Uma da manhã", "duas da manhã", "tres da manhã", "quatro da manhã" e "cinco da manhã". Numa simples noite, pela madrugada adentro, as personagens recordam momentos do passado.
O episódio mais importante de todo o livro é o do suícidio da filha de Ana Emília, que com 15 anos se enforca numa macieira, sendo a sua boneca e as restantes árvores do quintal as unicas testemunhas desta morte.
Ana Emília abre e fecha a narrativa, é amante de Osvaldo, que não a visita mais, e viúva de um colega de Osvaldo, que tinha sido assassinado por este. Ana Emília centra-se no suícidio da sua filha, no assassinato do seu marido e na espera pelo amante nos seus discursos.
Alice, ex-enfermeira que mora em Évora, vive com o seu marido, Osvaldo, e vive perseguida por ter abortado o filho. A figura do berço que apodrece no pátio da casa atormenta-a, assim como a sua infancia pobre e o conhecimento pela amante do seu marido.
Osvaldo fala da sua amante e do suicídio da sua filha, da prisão de Peniche, um espaço onde aconteciam as sessões de tortura de Osvaldo aos presos, dando-lhe prazer. Esta prisão/forte foi erguida sobre rochedos, em frente do mar, e todas as personagens durante a noite escutam as ondas batendo nos rochedos. As 3 vozes da narrativa conhecem as histórias das outras, tendo assim os 3 as vidas entrelaçadas. Os mortos estão tambem muito presentes na narrativa, ressuscitando literáriamente e ganhando voz.
O leitor é desafiado a todo o momento pois não sabemos o que é verdade e o que é mentira.
A certa altura António Lobo Antunes é ficcionado passando de escritor a personagem, e participa na ação do livro, tornando ainda mais dificil perceber o que é real, e o que é ficção.
Ana Emília decide terminar o livro em nome da sua filha dizendo: "Escrevo o fim deste livro em nome da minha filha que não pode escrever".
No final do livro, nada se esclarece, nada fica claro e a ultima frase do livro avisa-nos: "aquilo que escrevo pode ler-se no escuro".
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