sábado, 13 de outubro de 2012

Romantismo


Romantismo

«Foi na Inglaterra e na Alemanha que, em meados do século XVIII, alguns poetas voltaram as costas aos modelos do classicismo, inspirando-se na Natureza, tal qual a viam e não tal qual Horácio e outros antigos lha mandavam ver. O sentimentalismo subjectivo veio assim substituir a gama imensa, mas limitada, de temas catalogados pelos Gregos e Romanos. Nunca mais os escritores aceitariam temas impostos do exterior. Deixar-se-iam arrastar – isso sim – pela evocação do popular, do medievo, do exótico, pela exaltação da liberdade, pelo «eu», medida do Universo, pela fascinação do nada, do abissal, da morte, da noite.

Em Portugal
O início do romantismo em Portugal anda, extrinsecamente pelo menos, ligado às lutas civis entre miguelistas e liberais. Por duas vezes, depois da Vila-Francada e da Abjuração da Carta, muitos partidários de D. Pedro IV tiveram de exilar-se em Inglaterra e em França. Quis a Providência que entre esses emigrados estivessem os jovens escritores Almeida Garrett e Alexandre Herculano.

Psicologia do homem romântico
1.      O culto do «eu»
Contra o objectivismo absorvente e a sujeição às regras escravizantes dos neoclássicos, apregoam os românticos a independência, o espírito individualista, a violenta exaltação da própria personalidade. O «eu» é o grande, o máximo ser objectivo; o mundo externo terá apenas a realidade que nele projectar a inteligência e a imaginação da pessoa que o examina e o vê. Sem caírem de borco no idealismo filosófico, embrenharam-se, pelo menos, num idealismo poético. Na génese desta atitude está, sem dúvida, a concepção do «eu» da filosofia idealista de Fichte e Schelling.
2.      Ânsia de liberdade
Do acentuado individualismo do homem romântico brota naturalmente o desejo histérico de partir todas as cadeias que o prendem à colectividade. Daí a ânsia de liberdade em todos os sectores da vida: liberdade na literatura, na indústria, no comércio, na política, na consciência, na manifestação dos sentimentos e instintos.
a)      Liberdade política. A vontade do rei deixou de ser soberana para o romântico. O cidadão deve manifestar livremente as suas opiniões e ter mesmo desimpedido o caminho que o conduz à governança pública. Se for preciso, gritará contra os tiranos, promoverá revoluções.
b)      Liberdade moral. Para o romântico a norma de moralidade não é constituída pelos ditames da sã razão, nem muito menos pelas crenças religiosas. A única norma a que deve sujeitar o seu viver é o instinto, é o fogo da paixão. Reconhecerá, no entanto, a necessidade afectiva de Deus e da religião.
c)      Liberdade nos sentimentos. Diz Ortega y Gasset que, antes do romantismo, costumava o homem envergonhar-se das suas emoções, tão orgulhoso se sentia das suas ideias. A razão era, com efeito, um dique maciço e irremovível a conter a manifestação dos sentimentos, ainda mais os legítimos. O homem romântico dinamitou esse dique, para se deixar arrastar pelas mais violentas emoções.
3.      Angústia metafísica
O humanista julgava-se seguro na vida, com os dois pés bem assentes no mundo, depois de descobrir as leis da Natureza, que julgava perfeita, e sobretudo depois de ganhar a convicção de que ele a dominava e ela o servia. O romântico, encerrado no seu egocentrismo, perdeu toda a confiança na razão e nas suas possibilidades. A vida é para ele um problema insolúvel. O instinto mostra-lhe a toda a hora a existência de forças estranhas que ele não domina, que nem sequer conhece, e que, apesar de tudo, o conduzem pela existência adiante, como que arrastado por um cego destino. A Natureza, essa, contempla impassível a sua dor. A resolução dos seus problemas está longe, muito longe. O homem romântico levanta então os olhos para o infinito e para o absoluto que o homem clássico ignorou. Sente uma nostalgia intensa de algo distante no tempo e no espaço. Busca esse algo, quer atingi-lo, mas, quanto mais anda, mais longe o vê. Chega assim ao desespero. A inquietação febril e a angústia metafísica surgem inevitavelmente.
4.      O espírito idealista
Olhos fitos num mundo superior que a razão não sabe definir, o romântico começa a idealizar, a fazer de conta. Não se contenta com o prosaísmo das festas da Corte, com o indiferentismo irónico, com o cepticismo do século XVIII. O seu coração generoso deixa-se embalar num certo espiritualismo e vai lançar-se no culto da Humanidade, da Pátria, da mulher. E então encaminha toda a potencialidade do seu ser para a filantropia, para o patriotismo, para o amor. E fica a sonhar.
5.      O choque com a realidade: pessimismo e evasão
O romântico, como acabamos de ver, idealiza o mundo, construindo-o no ar, ou sobre castelos de areia. Quando baixa à terra, não encontra esse mundo. A Humanidade não o compreende; a Pátria, se for preciso, desterra-o; a mulher ou não é um anjo ou atraiçoa-o. Que há de fazer?
Deste choque brutal com a realidade provém o desengano e para esse desengano só existe uma solução: fugir. Uns fogem de terra em terra, como Chateaubriand, Byron e Garrett; outros refugiam-se  na Idade Média ou na paisagem do exótico Oriente, como Walter Scott, Herculano e Vítor Hugo; outros vão mais longe e suicidam-se, fugindo assim apressadamente para a eternidade, como Kleist, Nerval, Camilo, Antero, Trindade Coelho.
O que dissemos destes autores verifica-se mais ao pé da letra nos heróis criados ao abrigo dos cânones do romantismo: evadem-se no tempo e no espaço, refugiam-se no sonho e no fantástico, na orgia e na dissipação.» 

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