quinta-feira, 7 de junho de 2012

“Gente Feliz com Lágrimas”, de João de Melo


É um romance que retrata a vida de uma família paupérrima e açoreana. Passa-se na época salazarista em que os valores tradicionais e católicos são a pauta de todos os portugueses. Trata-se de uma família que devido à sua pobreza, acaba por enviar dois filhos (um rapaz e uma rapariga) para o continente, um a estudar padre e outra para freira.
É constantemente descrita a miséria e as doenças associadas àquela época na maioria das famílias, assim como o retratar de uma época sem contraceção e em que os filhos nasciam e morriam com a maior das facilidades.
O livro retrata os sentimentos com muito pormenor, a fome, a pobreza, a falta de higiene, a agressividade, o amor e o medo de o expressar. Os sentimentos e os locais são descritos com tal precisão, que nos sentimos no local e sentimos que o que o autor nos pretende fazer sentir.
É focado o sentimento de revolta pela pobreza e o que isso implica, nomeadamente o facto de dois dos elementos da família (muito jovens) terem de ir para o seminário e para um convento. Mais tarde, o elemento masculino, acaba por renegar ao sacerdócio e perceber o quão hipócrita é a religião, questionando todos os seus princípios, apesar de mais tarde voltar a querer ingressar no seminário, revelando as permanentes dúvidas.
Este livro analisa com grande emoção os sentimentos nas relações familiares, família nuclear e mais próxima. Fala-nos dos encontros e desencontros entre gerações, sempre com um discurso agressivo e até grotesco próprio da pobreza salazarista da época.
É analisada da vida e a morte com todo o luto desnudado, passando pelos ódios e os egoísmos das heranças.
“Gente feliz com lágrimas”, tal como o nome diz reflete o sofrimento para conseguir alcançar a felicidade que é sempre tão relativa e pessoal.

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