sexta-feira, 8 de junho de 2012

Auto da Feira, de Gil Vicente


Esta obra, o Auto da Feira (de Gil Vicente) foi representada ao rei D. João III, na cidade de Lisboa, no Natal de 1526.

É um texto dramático e tem como ponto principal o comércio. As cenas implícitas na obra são um pouco diferentes entre si pois transmitem morais diferentes, porém referem-se todas a trocas comerciais.
O Auto inicia-se com um monólogo de Mercúrio, o deus do comércio. Este faz referência a outros Deuses que se encontram no reino dos céus (Saturno, que representava o tempo; Marte, deus da guerra: Vénus, deusa do amor e da beleza; Júpiter, o pai dos Deuses) assim como a alguns signos do Zodíaco (Touro, Carneiro, Caranguejo, Balança,…).

No final desta cena, Mercúrio ordena que Tempo organize uma feira no dia de Natal, a Feira das Graças em honra da Virgem que nascera em Belém.
Entra Tempo e arma uma tenda com muitas coisas. Esta feira seria um pouco diferente de algumas já realizadas. Não seriam vendidas coisas, mas sim trocadas por outras.
Tempo diz que nesta feira irão encontrar tudo aquilo que precisam, e se for caso disso virtudes.

Inicia-se uma nova cena com a entrada de Serafim, um anjo enviado por Deus a pedido do Tempo. Este pede para que os papas preguem novas vestes, com as dos antigos, as dos antepassados.

“À Feira, à feira, igrejas, mosteiros, pastores das almas, Papas adormidos! Comprai aqui panos, mudai os vestidos, buscai as çamarras dos outros primeiros, os antecessores.”  
O Diabo entra em cena com uma tenda e diz que vai vender “artes de enganar”, “falsas manhas de viver”, ”hipocrisia”.   
Mercúrio avisa o Tempo que Roma está a chegar.
Esta entra em cena cantando.
Procura quem lhe venda Paz, Verdade e Fé, pois não encontra estes valores entre os cristãos.
 “Vejamos se nesta feira, que Mercúrio aqui faz, acharei a vender paz, que me livre da canseira em que a fortuna me traz. Se os meus me desbaratam, o meu socorro onde está Se os Cristãos mesmos me matam, a vida quem m' a dará, que todos me desacatam?”
Diabo diz que lhe vai vender o que ela procura, pois se ela quer descanso é com mentiras para todos que o vai encontrar. Roma não aceita pois já lhe tinha comprado mentiras um vez e não queria mais pois não tinha resultado.
Roma vai ao Anjo e este diz vender o poder profundo de Deus, porém Roma tem que estimar Deus e a sua palavra.
De seguida, entram dois lavradores que estavam a caminho da feira. Eles queixam-se das mulheres que têm em casa. Amâncio queixa-se que a sua mulher é muito brava, enquanto Denis diz que a sua é muito mansa e que quer uma mulher brava.
Após dizerem o que não gostam na sua mulher e o que gostariam de ter numa mulher, decidem trocar de esposas.
Depois entram as duas mulheres (Branca Ares e Marta Dias, a mulher brava e mansa respetivamente) em cena e começam a falar uma para a outra o que não gostam nos seus maridos.
Branca fala na palavra de Deus e o Diabo desaparece, visto que esta é poderosa.
Ao se dirigirem ao Tempo, este propõe-lhes vender Consciência, pois esta é uma feira de virtudes.
Depois entram nove moças e três rapazes que vêm cantando. Eles são a Justina, a Leonarda, a Teodora, a Móneca, a Giralda, a Juliana, a Tesaura, a Merenciana, a Doroteia, o Gilberto, o Nabor e o Dionísio.
Vão sempre mandando os outros falar.
Trazem cesto com comida.
Esta cena é um pouco confusa, porque são muitas personagens.
Depois aparecem dois compradores (Mateus e Vicente).
Falam de trocas de animais, e após conversarem durante algum tempo percebem que a feira da Ribeira é melhor que esta.
Quando se vão embora, o Anjo oferece de novo virtudes às moças mas elas não querem.
Então o Anjo pergunta o que é que elas foram lá fazer. Elas dizem que foram lá pois aquela era a Feira de Nossa Senhora, e era esse apenas o motivo que as lá levava. Não queriam virtudes porque essas não traziam pão.
Todos saiem de cena a cantar em honra da Virgem.
Podemos concluir que este texto dramático é um debate de ideias suscitado pela crise da Igreja do Séc. XVI e é uma luta entre o bem e o mal.
Conseguimos relacionar esta obra com algum Autos de Gil Vicente (como o Auto da Barca do Inferno e o Auto da Alma), pois são todas obras compostas por personagens alegóricas que têm o objetivo de representar um dado cargo, estatuto ou transmitir ideias de um conceito.

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