terça-feira, 1 de maio de 2012

"Os Meninos de Oiro", Agustina Bessa-Luís


O livro Os Meninos de Oiro, da Agustina Bessa-Luís, é um romance dividido em seis secções.
A ação decorre no Gerês, onde duas famílias (os Marcianos e os Matildes) se cruzam. Ao longo do texto são apresentadas diversas personagens, entre as quais, na minha opinião, se destacaram: Ana de Caules, Rosamaria e José Matildes.
Na primeira secção, deparamo-nos com um convite que Ana de Caules faz às amigas de infância para se voltarem a juntar. Ao longo da conversa que tem com as suas amigas, vê que estas só se sabiam queixar das suas doenças e gabarem-se de uma riqueza que usufruíam devido ao estatuto social conseguiram alcançar através do casamento. Com isto, Ana não se revê ali, porque tudo o que atingiu foi fruto do seu trabalho árduo e ao se aperceber que não existe qualquer tipo de identificação, sente um desinteresse que acaba por provocar um vazio em si, pois vê-se sem amizades.
Avançando na leitura, deparamo-nos com Rosamaria, a personagem central deste romance, e José Matildes – um homem ideal, sendo venerado por todos, que o leva a ser visto como a personalidade modelo, formando uma sociedade narcisista.
Rosamaria e José conhecem-se e apaixonam-se o que os leva a ocuparem os lugares um do outro e a verem ambos os lados.
A autora, usa esta noção de narcisismo de um modo pejorativo, querendo mostrar a vaidade e o egoísmo do grupo social em que as personagens deste romance se inserem, pertencendo à classe alta, ou seja, existe uma presença de riqueza e elitismo ao longo deste conto.
Em toda a narrativa, o leitor sente uma presença de um vazio e uma solidão pessoal, pois embora todas as personagens presentes estejam casadas e tenham constituído uma família, fizeram-no por interesse de alcançar a riqueza e não casaram por amor. Contudo, esta paixão entre José e Rosamaria, faz com que exista um conceito de amor que, mais tarde, acaba por não passar de uma ilusão, retratada na morte de José devido a um AVC. Este acontecimento cria dúvidas na sociedade narcisista que José formou, mas também, através da morte desta personagem a autora mostrou-nos que no quotidiano não há espaço para esta ilusão do conceito “amor”.
O facto de Agustina Bessa-Luís usar um vocabulário muito complexo, recorrer inúmeras vezes a metáforas e ao longo da narrativa inserir diversas personagens (podendo ter importância na história ou não), pois o livro é-nos apresentado a partir de uma perspetiva de uma árvore genealógica, a qual conta a história sobre os vários elementos da família e somos nós leitores que temos de tentar descodificar a personagem principal, e tudo isto torna a leitura difícil e, consequentemente, não prende o leitor.