Temas
do Romantismo
Culto
da Idade Média. O
romantismo deixou de ter admiração por tudo quanto era greco-romano e baniu o
uso da mitologia. A Idade Média, tempo admirável em que o povo ajudava os reis
a criar nações e em que os mesteirais, organizados em corporações, tinham real
valor, seduziu com as suas narrações cheias de peripécias os românticos,
visceralmente opostos aos absolutismos e partidários em política da soberania
do povo.
Esta evasão para os tempos
medievos proporcionou aos escritores o contacto com lugares, factos e tipos
capazes de inspirarem a imaginação mais fria: castelos musgosos, lendas e
tradições, cavaleiros, monges, cruzados, mouros, judeus.
Note-se, porém, que os temas de
actualidade não foram postergados (por exemplo em Viagens na Minha Terra, de Garrett) e até estiveram em voga nas
poesias revolucionárias dos epígonos do romantismo, para só falarmos no caso
português.
Descoberta
da Paisagem. O
romantismo descobriu a paisagem tal qual é no particular, e pôs de parte a
natureza sempre igual e artificial dos clássicos. Postergou-se o bucolismo de «ervas verdes e rios
tranquilos». Agora, o entusiasmo vai para a paisagem agreste, exótica, para a
selva virgem com a sua típica desordem, com suas asperezas e impetuosidades, com
suas cataratas e rios caudalosos. A paisagem nocturna, sepulcral, luarenta,
adapta-se aos sentimentos melancólicos dos autores. Às vezes, num semi-panteísmo,
o romântico vê-se embebido na mesma
paisagem, a fazer um todo com ela. Ela como que se transfigura e se transforma
em símbolos. O poeta romântico tem com ela uma espécie de contacto sensual que
o leva ao êxtase.
A procura desta paisagem levou o
escritor romântico a evadir-se no espaço e a sentir-se bem nos países de tom
exótico, de gosto bárbaro e primitivo cuja cor local pinta com prazer e
transmite com verdade.
O
homem real. Sabemos
que a beleza para o escritor clássico residia na imitação da natureza, não no
particular, mas no universal. Em vez de criar tipos verosimilhantes aos seres
individualizados e reais, idealizava seres com todas as perfeições e sem
quaisquer defeitos.
O autor romântico procede de
maneira diferente: desenterra, cria tipos humanos autênticos. Sente gosto em
particularizar, em referir com pormenor os traços individuais dos heróis, sendo
assim fiel à história e à cor local. Dá até preferência aos que vivem fora da
lei, aos aleijões físicos e morais: o ladrão, o pirata, o assassino, o traidor,
o perjuro, o incestuoso, o adúltero, a prostituta, o sacrílego, o cego, o
corcunda, o mutilado. Às vezes, não teme aliar a elevação de sentimentos à
hediondez física (como acontece no Quasimodo de Nossa Senhora de Paris e no Homem
que Ri, de Vítor Hugo).
Pessoalismo
e melancolia. O romântico
porfia em expandir o que nele há de mais pessoal, desde a sensibilidade e os
voos da infância até aos impulsos do subconsciente. Não admira, pois, que
mostre especial predilecção pela melancolia, de todos os sentimentos o mais
sentimental. Daí que, ao contrário dos clássicos, amantes da claridade mediterrânica,
prefira ambientes de nebulosidade nórdica, o entardecer, o escurecer, a noite,
as florestas sombrias, as cavernas, os agouros, os sonhos.
Exaltação
do que é nacional e popular. A
cultura francesa do século XVIII tinha unificado espiritualmente a Europa;
Napoleão Bonaparte tentou a unificação política. Como reacção, os escritores
românticos procuram exaltar tudo o que é nacional, tudo quanto é popular. E
crêem que a alma dos nacionalismos europeus incarnou no povo na Idade Média e
no povo se tem mantido inalterada. O popular e o folclórico adquirem, desta
maneira, um grande prestígio junto da nova escola.
Foi por isto que a literatura
romântica cedo adquiriu um carácter cívico
e patriótico e enveredou a pouco e pouco pelo historicismo, tratando com
muito carinho figuras nacionais.
Liberdade
de inspiração. O
génio criador não pode estar sujeito a normas férreas, como eram as da estética
clássica. Essas normas são totalmente banidas, pois convertem a arte num puro
mecanismo. O escritor romântico voa nas asas da imaginação, dos seus
sentimentos e instintos. Criará obra estritamente pessoal. Não admite mais a
divisão dos géneros clássicos. Com excepção do soneto, que conserva, inventa
novos agrupamentos estróficos. Opõe-se tenazmente à imitação paradigmática dos
escritores gregos e romanos.
Confronto
entre as tendências do classicismo e do romantismo:
Classicismo
|
Romantismo
|
A razão, a inteligência
O geral, o universal
O objectivo, o impessoal
A vontade, o heroísmo
A inteligência, as abstracções
A clareza, a ordenação
O paganismo
O culto da antiguidade
greco-latina
O aristocrático, o nobre, o
tradicionalista
|
O coração, a sensibilidade, a
imaginação
O particular, o individual
O subjectivo, o pessoal
A melancolia, o abatimento
As sensações, a sensibilidade
O mistério, o sonho, a
meditação
O cristianismo
O culto da Idade Média e dos
tempos modernos
O popular, o pitoresco, a
paisagem
|
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