A ação decorre no Gerês, onde
duas famílias (os Marcianos e os Matildes) se cruzam. Ao longo do texto são
apresentadas diversas personagens, entre as quais, na minha opinião, se
destacaram: Ana de Caules, Rosamaria e José Matildes.
Na primeira secção, deparamo-nos
com um convite que Ana de Caules faz às amigas de infância para se voltarem a
juntar. Ao longo da conversa que tem com as suas amigas, vê que estas só se sabiam
queixar das suas doenças e gabarem-se de uma riqueza que usufruíam devido ao
estatuto social conseguiram alcançar através do casamento. Com isto, Ana não se
revê ali, porque tudo o que atingiu foi fruto do seu trabalho árduo e ao se
aperceber que não existe qualquer tipo de identificação, sente um desinteresse
que acaba por provocar um vazio em si, pois vê-se sem amizades.
Avançando na leitura,
deparamo-nos com Rosamaria, a personagem central deste romance, e José Matildes
– um homem ideal, sendo venerado por todos, que o leva a ser visto como a
personalidade modelo, formando uma sociedade narcisista.
Rosamaria e José conhecem-se e
apaixonam-se o que os leva a ocuparem os lugares um do outro e a verem ambos os
lados.
A autora, usa esta noção de narcisismo
de um modo pejorativo, querendo mostrar a vaidade e o egoísmo do grupo social
em que as personagens deste romance se inserem, pertencendo à classe alta, ou
seja, existe uma presença de riqueza e elitismo ao longo deste conto.
Em toda a narrativa, o leitor
sente uma presença de um vazio e uma solidão pessoal, pois embora todas as
personagens presentes estejam casadas e tenham constituído uma família,
fizeram-no por interesse de alcançar a riqueza e não casaram por amor. Contudo,
esta paixão entre José e Rosamaria, faz com que exista um conceito de amor que,
mais tarde, acaba por não passar de uma ilusão, retratada na morte de José
devido a um AVC. Este acontecimento cria dúvidas na sociedade narcisista que
José formou, mas também, através da morte desta personagem a autora mostrou-nos
que no quotidiano não há espaço para esta ilusão do conceito “amor”.
O facto de Agustina Bessa-Luís
usar um vocabulário muito complexo, recorrer inúmeras vezes a metáforas e ao
longo da narrativa inserir diversas personagens (podendo ter importância na
história ou não), pois o livro é-nos apresentado a partir de uma perspetiva de
uma árvore genealógica, a qual conta a história sobre os vários elementos da
família e somos nós leitores que temos de tentar descodificar a personagem
principal, e tudo isto torna a leitura difícil e, consequentemente, não prende
o leitor.
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